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A Primeira Guerra Mundial nos Balcãs

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL NOS BALCÃS

 A Guerra nos Balcâs foi essencialmente uma guerra contra a Sérvia. Primeiro levada a cabo pela Áustria-Hungria, em 1914, e depois também pela Alemanha e pela Bulgária em 1915. Os Aliados em Salónica não dispunham de recursos suficientes para contrariar o avanço das Potências Centrais e estas também não quiseram empenhar mais recursos para expulsar os Aliados do sul dos Balcãs. A Bulgária tinha entrado na guerra a troco de compensações territoriais, mas a sua posição geográfica, no caminho entre a Alemanha e a Turquia, também influenciou a decisão. A Grécia teve uma fraca prestação e o seu maior esforço foi dispendido em tentar manter a neutralidade, o que não conseguiu. A Roménia entrou na guerra em 1916 numa tentativa de aproveitar a oportunidade oferecida pela ofensiva russa (Ofensiva Brusilov). A Albânia, neutral mas sem um governo eficaz, foi facilmente invadida e os Italianos não perderam a oportunidade de ali recuperarem antigos territórios. Nos Balcãs, tal como na Frente Ocidental, a guerra terminou por exaustão dos recursos, muito especialmente das pessoas.

O BOMBARDEAMENTO DE BELGRADO

No dia 28 de julho de 1914, pelas onze da manhã, um mês depois do assassinato do príncipe herdeiro da coroa do Império Austro-húngaro, o governo sérvio recebeu o telegrama que continha os termos da declaração de guerra. Esta situação não foi uma surpresa para o governo da Sérvia. Tratou-se da consequência da não aceitação, por este governo, de uma das exigências contidas no ultimato enviado pela Áustria-Hungria a 23 de julho.

A capital da Sérvia, Belgrado, estava situada na confluência dos rios Sava e Danúbio e o território do outro lado destes rios pertencia ao Império Austro-húngaro. Desta forma, Belgrado ficava dentro do alcance da artilharia inimiga que podia fazer fogo a partir das margens opostas dos rios Sava e Danúbio. Além da artilharia de campanha, a Áustria-Hungria podia utilizar a sua frota de monitores (navios de baixo calado fortemente armados) no Danúbio. A Áustria-Hungria dispunha da Flotilha do Danúbio com seis monitores e cinco navios patrulha.

O bombardeamento de Belgrado foi feito a partir dos monitores, na noite de 28 para 29 de julho, dando início às hostilidades que provocaram um conflito mundial. No entanto, a ação militar dessa noite não se limitou a um mero bombardeamento da capital da Sérvia. Os acontecimentos desta data são narrados com clareza por James Lyon, investigador associado do Centro de Estudos do Sudeste Europeu, Universidade de Graz, Áustria, num artigo publicado na internet na página de "War History Online".

De acordo com o texto de James Lyon, cerca das 23H30 do dia 28 de julho, o dia da declaração de guerra, começaram a ser ouvidos disparos a partir do lado sérvio, ao longo do rio Sava. Esses disparos foram efetuados por forças policiais que guardavam a cidade e que detetaram algumas embarcações no rio. Essas embarcações eram três rebocadores que puxavam barcaças com tropa de infantaria que tinha tentado desembarcar na área da fortaleza de Kalemegdan, em Belgrado. As barcaças, ao serem atingidas pelo fogo das espingardas das forças de segurança sérvias, começaram a afastar-se. Os monitores que as escoltavam bombardearam então a cidade com as suas peças de 120 mm.

Alguns autores referem, sobre este tema, o bombardeamento de Belgrado a partir dos monitores. Outros referem apenas o bombardeamento sem referir a origem. Misha Glenny refere o bombardeamento a partir de Semlin (hoje, Zemun), na margem oposta do Rio Sava. Já Jean-Jacques Becker refere que o bombardeamento foi feito a partir da margem norte do Danúbio. Martin Gilbert refere o bombardeamento a partir dos monitores. Trata-se apenas de um pormenor que não tem influência para a compreensão global do tema que estamos a tratar, mas mostra também a dificuldade em obter dados precisos em obras de carácter geral, mesmo quando escritas por autores conceituados.

As barcaças com a tropa de infantaria subiram o rio Sava em direção à ponte de caminho de ferro, a oeste de Belgrado. As forças de segurança sérvias perseguiram-nas ao longo da margem. Perto da ponte, as forças sérvias foram confrontadas com fogo de armas ligeiras vindo do lado norte do rio, portanto efetuado pelas tropas austro-húngaras. Receando que estas atravessassem para o lado sérvio, um destacamento da "Organização Chetnik Sérvia", cerca das 01H00 do dia 29, dinamitou a ponte cortando todas as comunicações com a Áustria-Hungria. Enquanto isto se passava, as tropas que se encontravam nas barcaças tornaram-se alvos fáceis do fogo sérvio e muitos combatentes atiraram-se à água e nadaram para a margem norte do rio. Pelas 01H10, a luta tinha parado pondo fim à primeira tentativa de invasão do território sérvio por forças austro-húngaras.

Na descrição destes acontecimentos, a referência a forças militares na defesa de Belgrado limita-se a uma companhia do 18º Regimento de Infantaria. A força militar destinada a defender Belgrado era a I Divisão do Danúbio que tinha concentrado as suas forças na colina de Banovo, a oeste, e em Banjica, a sul da cidade. De qualquer forma, não estava nos planos sérvios defender a capital, o que se considerava ser impossível atendendo à sua localização. Por outro lado, calculando o tempo necessário para a concentração das tropas austro-húngaras, estimava-se que as hostilidades não teriam início antes de 4 de agosto.

A Áustria-Hungria, no entanto, agiu mais rapidamente que o previsto. Se não tinha ainda concentrado as forças para a invasão da Sérvia, tentou, com poucos efetivos, capturar Belgrado e apresentar o facto consumado à comunidade internacional, isto é, às outras Grandes Potências, podendo desta forma considerar que tinham sido aplicadas as sanções adequadas pelo não cumprimento de todas as exigências do ultimato. Como refere James Lyon, a posição da Áustria-Hungria numa conferência de paz que certamente se seguiria seria de muito maior importância.

Mas a realidade é que esta primeira operação militar foi um fracasso para as forças do Império dos Habsburgo e a posterior derrota da Sérvia só foi obtida no ano seguinte com forças combinadas da Áustria-Hungria, Alemanha e Bulgária.

 

OS PLANOS AUSTRO-HÚNGAROS

Os acontecimentos de 28 e 29 de julho de 1914 não se enquadravam nos planos de guerra da Áustria-Hungria. Provavelmente, tal como explicou James Lyon, os Austro-Húngaros procuraram resolver a situação sem ser necessário ativar nenhum desses planos, já que a guerra com a Sérvia poderia implicar a guerra com a Rússia e, neste último caso, seria difícil a Áustria-Hungria resolver o problema sem a ajuda da Alemanha. Vejamos então alguns fatores condicionantes do planeamento austro-húngaro.

Sob a chefia do Feldmarschall Franz Conrad von Hötzendorf, o Estado Maior Imperial austríaco (austro-húngaro), identificou várias possibilidades de ameaça que, a darem origem a situações de conflito armado, poderiam obrigar a Áustria-Hungria a travar uma guerra em duas (Rússia e Sérvia) ou mais frentes (Rússia, Sérvia e Itália). Era um cenário complexo que obrigava a desenvolver planos flexíveis. Tendo em atenção os recursos disponíveis, o planeamento deveria prever uma situação semelhante à do Plano Schlieffen. No caso da Áustria-Hungria e no que interessa para a guerra nos Balcãs, previa-se lançar em primeiro lugar um ataque contra o inimigo mais fraco, a Sérvia, para depois dirigir a maior parte das forças para a Galicia, contra o inimigo mais forte, a Rússia. O primeiro problema que se colocava aos Austríacos era, a partir de uma força permanente de tempo de paz, mobilizar e organizar os recursos necessários para uma força sete ou oito vezes maior.

O Exército Austro-Húngaro estava dividido em três corpos: um exército comum à Áustria e à Hungria, o Exército Imperial e Real (Kaiserlich und Königlich) sob um comando central; um exército nacional austríaco (Kaiserlich Königlich landwehr); um exército nacional húngaro (Königlich Ungarich Landwehr). Todos estes corpos estavam organizados em formações regulares e poderiam atuar como forças de primeira linha. Na Áustria e na Hungria existiam ainda, desde 1890, duas forças organizadas para a defesa interna, a Kaiserlich Königlich Landsturm e a Königlich Ungarich Landsturm.

Com um sistema de serviço militar obrigatório, os que eram chamados a servirem nas unidades de primeira linha, após três ou quatro anos (dependia da arma ou serviço a que se destinavam) passavam para a situação de reserva e daí, após um período de dez ou sete anos, para a Landsturm. Menos de um terço do exército era austríaco (língua alemã). Três quartos da Infantaria era formada por indivíduos de origem eslava. Com este sistema, a Áustria-Hungria mantinha uma força de tempo de paz com cerca de 450.000 homens e, completada a mobilização, este número cresceu para cerca de 3.350.000, incluindo as unidades landwehr e Landsturm.

Após a mobilização, era necessário colocar as unidades militares (recursos humanos e materiais e uma grande quantidade de abastecimentos) nos locais de concentração previstos. Para um tão grande volume de recursos o caminho de ferro era o único meio possível para o seu transporte em tempo oportuno. As unidades militares austro-húngaras concentradas para lançar o ataque à Sérvia em agosto de 1914 (14 divisões de infantaria e 1 divisão de cavalaria) totalizavam, aproximadamente, 200.000 homens com todo o equipamento. Não havendo uma rede ferroviária suficientemente vasta e tendo em atenção a natureza montanhosa do terreno (Cárpatos, Alpes Dináricos, Balcãs) que exigia maior número de máquinas, o Exército austro-húngaro tinha que planear cuidadosamente esses movimentos porque podiam existir situações em que algumas forças ficassem retidas a aguardar disponibilidade de transporte.

Quando se deu a crise da Bósnia em 1908-1909, o Estado Maior Imperial da Áustria-Hungria assumiu que uma guerra em duas frentes, contra a Sérvia e contra a Rússia, seria o cenário mais provável. As Guerras Balcânicas não alteraram essa convicção. Pelo contrário, reforçaram-na. Em 1914, quando se iniciaram as hostilidades, o Exército da Áustria-Hungria estava organizado em 49 divisões de infantaria e 11 divisões de cavalaria, agrupadas em 16 corpos de exército, por sua vez agrupados em 6 exércitos. Estas forças eram manifestamente insuficientes para enfrentarem os prováveis inimigos, ou seja, a Rússia com 92 divisões, a Sérvia e o Montenegro com 21 divisões e provavelmente a Roménia com 16 ou 17 divisões.

Com os números acima indicados, fica claro que a Áustria-Hungria necessitava do apoio da Alemanha para enfrentar a Rússia, mas a Alemanha também contava com a Áustria-Hungria para assegurar a execução do seu Plano Schlieffen. A leste, a Alemanha apenas dispunha do Oitavo Exército a que se juntou, na segunda quinzena de setembro, o Nono Exército. Este último foi formado com seis corpos de exército que foram retirados de outros exércitos, em especial do Oitavo Exército que cedeu três corpos, ficando assim muito mais fraco. A Rússia conseguiu empenhar seis exércitos nas fronteiras com a Alemanha e a Áustria-Hungria, nos meses de agosto e setembro. Nesta situação, era vital para a Alemanha que a Áustria-Hungria lançasse uma ofensiva a leste. A segurança das fronteiras leste das Potências Centrais dependia, portanto, da estreita coordenação entre as forças disponíveis de ambos os países.

A Áustria-Hungria lançou uma ofensiva na Galícia, a 13 de agosto, com três exércitos a que se juntou parte do Segundo Exército, que se previra inicialmente ser empenhado, na totalidade, contra a Sérvia. A Rússia enfrentou a ofensiva austro-húngara com quatro exércitos (outros dois avançaram contra a Prússia Oriental). No final de setembro, a Rússia colocou mais um exército (Nono Exército) na Galícia e outro (Décimo Exército) na fronteira norte com a Alemanha. A guerra com a Rússia obrigou a Áustria-Hungria a empenhar a maior parte das suas forças na fronteira leste ficando disponível para o ataque à Sérvia os Quinto e Sexto Exércitos e as divisões do Segundo Exército que ainda não tinham seguido para a Frente Leste. O Estado Maior General da Áustria-Hungria tinha planeado empenhar o Segundo Exército primeiro na Sérvia e, em seguida, transferi-lo, por escalões, para a Frente Leste.

O Estado Maior austro-húngaro pretendia obter uma vitória rápida contra a Sérvia. Para o conseguir, as forças austro-húngaras deveriam ocupar Belgrado e Valyevo ainda antes de o Exército Sérvio estar completamente mobilizado. O que se passou na noite de 28 para 29, de acordo com o texto de James Lyon, pode realmente ter sido a tentativa de alcançar este resultado em tempo de permitir que a ação diplomática da comunidade internacional (leia-se das Grandes Potências) impedisse a Rússia de concretizar a intenção de apoiar a Sérvia por via militar.

Quando a Áustria-Hungria enviou um ultimato à Sérvia (23 de julho), estava já definido o caminho a seguir perante a provável recusa da Sérvia relativamente às exigências que constavam do texto daquele documento. No dia 26 de julho, no dia seguinte ao da resposta da Sérvia ao ultimato, a Áustria-Hungria iniciou a mobilização. A Sérvia tinha iniciado a mobilização no dia anterior. Inicialmente, a Áustria-Hungria pretendia fazer uma mobilização parcial, ou seja, apenas foram difundidas ordens de mobilização para a formação das unidades destinadas a uma guerra local. No entanto, rapidamente a situação se alterou quando a Rússia deixou claro que interviria em apoio da Sérvia e foram iniciados os procedimentos relativos à mobilização das restantes forças a serem enviadas para a Galícia, na Polónia Austríaca.

A mobilização é a operação que consiste em colocar um exército em situação de prontidão para a guerra. Esta operação implica, num espaço de tempo tão curto quanto possível, mobilizar os recursos humanos e materiais, em quantidade e qualidade, e as infraestruturas disponíveis, fazer deslocar as unidades militares para as zonas de reunião definidas nos planos em vigor e providenciar os abastecimentos necessários. A rapidez com que estas operações são executadas confere uma vantagem significativa sobre o oponente mais lento porque o primeiro confronto pode ocorrer quando uma das partes ainda não conseguiu dispor de todas as suas forças no terreno. Teoricamente, o primeiro a mobilizar possui a iniciativa e inicia os confrontos numa situação de superioridade. Por outro lado, quanto mais rápida for a mobilização menos forças são necessárias manter em tempo de paz, o que significa uma economia para o Estado.

A Áustria-Hungria iniciou a mobilização a 26 de julho. A perceção da intervenção militar da Rússia em apoio da Sérvia acabou por determinar a mobilização geral para que fosse possível sustentar a guerra em duas frentes: contra a Sérvia e contra a Rússia. O desfecho dos acontecimentos da noite de 28 para 29 de julho ditou esta modalidade de ação. Se estas eram as intenções do governo austro-húngaro, que conhecia a intenção dos Russos de apoiarem a Sérvia, porque é que a mobilização geral não foi iniciada de imediato, apesar dos acontecimentos de 28-29 de julho?

A mobilização exige um esforço financeiro considerável. A Áustria-Hungria tinha mobilizado durante a crise da Bósnia (1908-1909) e durante as Guerras Balcânicas (1912-1913) sem ter tido necessidade de empenhar as suas forças. Os efeitos negativos da mobilização não se colocaram apenas na atribuição direta de recursos financeiros a esta operação. A generalidade dos homens considerados aptos, entre os 18 e os 40 anos, são retirados do seu posto de trabalho. Isto significa uma perturbação grave do sistema produtivo de bens manufaturados ou alimentos, quando estes fazem mais falta. Em julho/agosto de 1914, uma parte muito importante dos trabalhadores agrícolas foram enviados para o serviço militar, justamente quando as colheitas exigiam mais mão de obra.

A 10 de agosto, as forças da Áustria Hungria atravessaram a fronteira com o território russo na Polónia e invadiram a Sérvia no dia 12. De acordo com os planos existentes, a Áustria-Hungria devia invadir e derrotar rapidamente as forças sérvias para, posteriormente, libertar o máximo de forças que, juntamente com as tropas alemãs, enfrentariam os Russos na fronteira leste.

 

OS PLANOS DA SÉRVIA

Na Sérvia, a força de tempo de paz tinha um efetivo próximo dos 29.000 homens. A mobilização previa que essa força passaria a ser de 260.000 homens. Estes eram os números oficiais. No entanto, após as Guerras Balcânicas (1912-1913) a Sérvia adquiriu mais territórios o que lhe permitiu dispor de mais recursos humanos. No final de julho de 1914 tinham sido mobilizados cerca de 350.000 homens. Tal como as demais potências, a Sérvia tinha os seus planos para a eventualidade de um conflito com a Áustria-Hungria.

Em 1908, a Bósnia e a Herzegovina foram anexadas ao Império Austro-Húngaro. Este acontecimento significou que a Áustria-Hungria anexou um território (que já ocupava desde 1878) que era cobiçado pela Sérvia. Das Grandes Potências com interesses territoriais nos Balcãs, uma delas, a Áustria-Hungria, obteve território dos Balcãs sem que a outra, a Rússia, fosse compensada. Para a Rússia, alterar os tratados que governavam o acesso aos Estreitos de Dardanelos e do Bósforo teria sido a compensação adequada. Assim não sucedeu e as relações entre a Áustria-Hungria e a Rússia tornaram-se muito tensas, mas como a Rússia não encontrou o apoio claro das outras potências da Entente, ao contrário do que sucedeu entre a Áustria-Hungria e a Alemanha, teve de aceitar a anexação como facto consumado. Na verdade, nem a Áustria-Hungria nem a Rússia estavam em condições económicas de iniciar uma guerra. A Rússia ainda não se tinha recomposto da derrota na guerra contra o Japão (1904-1905).

Estes acontecimentos mostraram à Sérvia que o apoio da Rússia podia não estar garantido. Havendo ou não motivo para um conflito com a Áustria-Hungria, a Sérvia teve de adequar os seus planos para uma situação idêntica àquela que então acabara de viver. Assim, aqueles planos militares tinham um carácter defensivo e mantiveram-se nessa forma até entrarem em vigor em 1914. A Sérvia tinha um acordo defensivo com a Grécia, datado de 1913, mas este estava mais direcionado para a possibilidade de uma intervenção da Bulgária. No caso de uma intervenção da Áustria-Hungria, apenas era possível contar com o apoio do Montenegro que dispunha de um pequeno exército, com apenas 35.000 soldados mais vocacionado para atuar como uma milícia ou em ações de guerrilha do que como tropa regular. Em 1914, no entanto, o equilíbrio das forças tinha sido alterado com a rápida recuperação da Rússia.

O plano desenhado pelo Estado-Maior General da Sérvia tinha, portanto, um carácter defensivo. O marechal de Campo Radomir Putnik colocou os seus três exércitos numa posição central a fim de acorrer a qualquer frente da forma mais rápida possível. O Primeiro Exército sérvio a sudeste de Belgrado, o Terceiro Exército a sudoeste e o Segundo Exército a sul, mas mais a norte que os outros dois. A invasão seria feita por norte ou por oeste, a partir da Bósnia, mas não estava excluída a possibilidade de uma intervenção da Bulgária que, até essa altura, não tinha mostrado vontade de entrar na guerra. As forças invasoras austro-húngaras, Quinto e Sexto Exércitos e parte do Segundo Exército, teriam um efetivo semelhante ao das forças sérvias, cerca de 200.000 homens, mas estavam melhor equipadas em metralhadoras, artilharia e transportes. Os Sérvios, contudo, eram veteranos das Guerras Balcânicas (1912-1913), com melhor preparação técnica e moral mais elevado.

 

AS INVASÕES DA SÉRVIA EM 1914

No dia 12 de agosto de 1914, as forças militares da Áustria-Hungria, sob o comando do Feldmarschall Oskar Potiorek, invadiram a Sérvia. O Segundo Exército (parte dele) atacou segundo a direção norte-sul, atravessou o rio Sava e tomou Šabac. Os Quinto e Sexto Exércitos atacaram na direção oeste-este, a partir da Bósnia, atravessando o rio Drina.

Balcãs 1 invasão Sérvia a

As forças do Segundo Exército foram obrigadas a retirar para norte do Rio Sava a 20 de agosto e foram transportadas para a Galícia. O Quinto Exército avançou até aos Montes Cer onde iniciou o contacto com as forças sérvias. O progresso foi lento e as forças austro-húngaras atingiram o Rio Jadar a 15 de agosto. A 16 de agosto, teve início o principal confronto desta invasão, a Batalha do Rio Jadar ou Batalha do Cer, que iria durar até 21 de agosto e terminaria com a derrota das forças austro-húngaras e a sua retirada para a Bósnia. O Sexto Exército atravessou Rio Drina, mais a sul, mas não conseguiu vencer a oposição das forças sérvias e retirou para a Bósnia. As forças do Montenegro, a sudoeste, avançaram para o sul da Bósnia, mas foram rapidamente repelidos.

A primeira invasão da Sérvia tinha sido um fracasso e provocou, entre as forças austro-húngaras, cerca de 30.000 feridos e entre 6.000 e 10.000 mortos. Os Sérvios sofreram entre 3.000 a 5.000 mortos além de 15.000 feridos. Tratou-se de uma derrota humilhante para a Áustria-Hungria, uma Grande Potência, dez vezes maior que a Sérvia. Ao perseguirem as tropas austro-húngaras em retirada, os Sérvios entraram na Bósnia e ocuparam parte do território.

Depois deste desaire, a Áustria-Hungria lançou uma nova invasão da Sérvia. Na noite de 7 para 8 de setembro de 1914, o Quinto Exército austro-húngaro atacou na direção norte-sul e o Sexto Exército atacou na direção oeste-leste, com o conjunto das forças austro-húngaras ainda sob comando do General Oskar Potiorek. As forças sérvias que, na invasão anterior, tinham perseguido as forças austro-húngaras em retirada, e se mantinham em território da Bósnia, retiraram rapidamente.

As forças austro-húngaras atravessaram o rio Drina em alguns pontos e estabeleceram testas de ponte, apesar de as forças sérvias, sob comando do General Radomir Putnik, oferecerem uma forte resistência num confronto que ficou conhecido como Batalha do Drina (8 a 17 de setembro). Quando o general Potiorek decidiu parar a ofensiva para reagrupar as suas unidades, as forças sérvias, que começavam a ter falta de munições, retiraram para uma posição mais fácil de defender, a sudoeste de Belgrado.

Balcãs 2 invasão Sérvia a

A ofensiva austro-húngara só foi retomada a 5 de novembro. As forças sérvias ofereceram uma resistência obstinada, mas foram obrigados a recuar. Valjevo, uma vila sérvia situada a pouco mais de 70 Km a sudoeste de Belgrado, caiu em poder das forças austro-húngaras a 15 de novembro. A partir daqui o General Potiorek alterou a direção do ataque e dirigiu-se para norte ameaçando a capital da Sérvia. O General Putnik retirou as suas forças de Belgrado e ocupou posições nas zonas altas da montanha Rudnik, cerca de 50 Km a leste de Valjevo.

Belgrado foi ocupada pelas forças austro-húngaras a 2 de dezembro. No dia seguinte, tendo já recebido abastecimentos enviados pelos Aliados através de Salonica, os Sérvios lançaram um contra-ataque violento. O confronto que então se deu ficou conhecido como Batalha de Kolubra ou Kolubara (3-9 dezembro 1914). As forças austro-húngaras não resistiram à determinação dos Sérvios e foram obrigados a retirar para a outra margem do Danúbio e do Save. Tinha fracassado a segunda invasão da Sérvia.

Nesta campanha (1914) contra a Sérvia, a Áustria-Hungria empenhou cerca de 450.000 homens e sofreu cerca de 227.000 baixas (mortos, feridos, desaparecidos e capturados). Os Sérvios empenharam cerca de 400.000 homens (já contando com cerca de 40.000 montenegrinos) e sofreram cerca de 170.000 baixas.

Os responsáveis políticos e militares da Áustria-Hungria terão compreendido finalmente que não dispunha de forças suficientes para sustentar duas ofensivas, na Sérvia e na Galícia. Aqui, os Primeiro, Terceiro e Quarto Exércitos estavam empenhados desde agosto e, a partir de setembro, também a totalidade do Segundo Exército. Esta força encontrava-se sob o comando direto do General Franz Conrad von Hötzendorf, chefe do Estado Maior austro-húngaro.

De 23 de agosto a 2 de setembro, as forças austro-húngaras realizaram uma ofensiva na Polónia Russa. Aos êxitos iniciais seguiram-se importantes derrotas com pesadas baixas que obrigaram os Alemães a intervirem em apoio da Áustria-Hungria. No dia 1 de novembro, o Marechal Paul von Hindenburg foi nomeado Comandante-em-Chefe de toda a Frente Leste, da Alemanha e Áustria-Hungria. Até ao final do ano de 1914, as forças austro-húngaras iriam sofrer mais de 250.000 mortos e feridos e cerca de 100.000 prisioneiros.

 

A INVASÃO DA SÉRVIA EM 1915; A BULGÁRIA ENTRA NA GUERRA

As derrotas sofridas na Frente Leste impediram a Áustria-Hungria de tentar nova invasão da Sérvia nos primeiros meses de 1915. De forma cada vez mais clara, as forças da Áustria-Hungria foram ficando sob controlo alemão e foram chamadas a apoiar as ofensivas alemãs contra os Russos. Por outro lado, na Primavera de 2015, os Alemães receavam a entrada da Itália na guerra porque as suas forças seriam quase inteiramente direcionadas contra a Áustria. Neste último caso, mantendo a intenção de uma guerra contra a Sérvia, a Áustria-Hungria estaria envolvida numa guerra em três frentes: Frente Leste, Frente dos Balcãs e Frente de Itália. Então, porquê insistir na guerra contra a Sérvia?

Em 1915 a Alemanha necessitava de manter as comunicações com a Turquia. O controlo dos Estreitos do Bósforo e de Dardanelos era fundamental para manter a Rússia isolada dos seus aliados - a França e o Reino Unido. A ligação entre a Alemanha e a Turquia, numa época em que as infraestruturas e equipamentos rodoviários estavam pouco desenvolvidos, podia ser feita por via marítima ou ferroviária. A via marítima estava bloqueada pelos Aliados que dominavam o Mediterrâneo. A via ferroviária tinha início em Hamburgo (Alemanha) e passava em Berlim, Praga, Budapeste e entrava na Sérvia na zona de Belgrado; atravessava a Sérvia e passava por Sofia (Bulgária) antes de se dirigir para Constantinopla.

Com a necessidade de ajudar os Turcos a suster o avanço das forças britânicas na Mesopotâmia e na Palestina, com a invasão dos Aliados na Península de Gallipoli (25 de abril de 1915), com a intensão de vir a controlar o Canal de Suez e com a oportunidade oferecida pela entrada da Bulgária na guerra (6 de setembro de 1915), o controlo da linha de caminho de ferro que atravessava os Balcãs tornou-se assunto de importância vital para os interesses alemães na região e o seu controlo exigia o domínio da Sérvia.

Balcãs 3 invasão Sérvia

No início da guerra, a Bulgária não se envolveu no conflito. Apenas há um ano atrás, em 1913, a Bulgária tinha sofrido uma pesada derrota na Segunda Guerra Balcânica. Além disso, a maior parte da população estava ao lado dos Russos. Assim, a Bulgária proclamou a sua neutralidade. No entanto, o czar Fernando I da Bulgária (Ferdinand Maximilian Karl Leopold Maria von Saxe-Coburg und Gotha) e o primeiro-ministro Vasil Radoslavov, com a intenção de readquirir os territórios perdidos na guerra de 1913, Macedónia e sul de Dobrudja, decidiram entrar na guerra ao lado das Potências Centrais.

As recentes derrotas da Rússia na Galícia e das forças da Entente em Gallipoli foram para estes governantes a indicação de que esta decisão estava certa e era oportuna. No dia 6 de setembro de 1915, a Bulgária assinou uma aliança com a Alemanha e a Áustria-Hungria. A Bulgária apoiaria as Potências Centrais na próxima invasão da Sérvia e ser-lhe-ia facultada a anexação da Macedónia. Negociações com o Império Otomano permitiram a cedência à Bulgária de territórios na Trácia.

Quando a Primeira Guerra Mundial teve início, o Exército da Bulgária ainda não tinha recuperado do desgaste provocado pelas Guerras Balcânicas (1912-1913). Havia carência de equipamentos e armamentos e, nos recursos humanos, faltavam muitos oficiais e sargentos. Em 1915, quando a Bulgária entrou na guerra ao lado das Potências Centrais, o exército recebeu ordem de mobilização a 22 de setembro de 1915 e mobilizou cerca de 650.000 homens, cerca de 12% da população do país. Fernando I escolheu para comandar o Exército Búlgaro o Major-general Nikola Zhekov, com formação em Itália.

No dia 6 de outubro de 1915 teve início a terceira invasão da Sérvia. O Décimo Primeiro Exército alemão e o Terceiro Exército austro-húngaro atravessaram a fronteira norte, formada pelos rios Save e Danúbio. No dia 11 de outubro, os Primeiro e Segundo Exércitos búlgaros, acompanhados pela Legião da Macedónia, atacaram ao longo da fronteira leste da Sérvia, embora a declaração de guerra da Bulgária à Sérvia só tenha sido formalizada a 14 de outubro. O comando desta força conjunta estava nas mãos do Generalfeldmarschall August von Mackensen, do Exército Alemão.

O Exército Sérvio, com cerca de 330.000 homens, enfrentou os ataques vindos de norte e de leste por forças que, no conjunto, tinham mais ou menos o dobro dos efetivos. A resistência dos Sérvios foi notável, mas perante esta desproporção de forças (e também de armas e equipamentos) foi obrigado a retirar continuamente para não ser cercado. Belgrado caiu a 9 de outubro e Kragujevac a 1 de novembro. A meados de novembro, os Búlgaros conseguiram cortar a linha de retirada dos Sérvios por Skopje, através da qual pretendiam juntar-se aos Aliados em Salónica. Não conseguindo reestabelecer esta linha de retirada, dirigiram-se para a Albânia. Pristina caiu a 23 de novembro. A 4 de dezembro, as forças das Potências Centrais pararam na fronteira com a Albânia.

Durante esta invasão, as forças aliadas em Salónica lançaram ofensivas sobre as forças búlgaras, mas foram obrigados a retirar. Os Sérvios retiraram através das regiões montanhosas do Montenegro e Albânia em direção à costa. Entre 12 de janeiro e 9 de fevereiro de 1916, cerca de 150.000 Sérvios desembarcaram em Corfu, transportados em navios italianos e franceses. Entre 11 de abril e 31 de maio, cerca de 80.000 homens dos Sérvios que tinham retirado para Corfu, considerados aptos, foram transportados para Salónica. O Exército do Montenegro ofereceu uma resistência notável, mas capitulou a 17 de janeiro. As forças austro-húngaras rapidamente ocuparam o Montenegro e o norte da Albânia que seria cedido aos Búlgaros.

Na fase final da retirada, quando as forças sérvias se dirigiram para o Montenegro e para a Albânia, foram acompanhadas por numerosos refugiados civis, uma multidão impossível de quantificar. Os Sérvios perderam nesta campanha mais de 100.000 homens, mortos, feridos ou desaparecidos, e cerca de 160.000 foram feitos prisioneiros.

 

OS ALIADOS EM SALÓNICA; SITUAÇÃO DA GRÉCIA E ALBÂNIA

A entrada da Bulgária na guerra afetava a Grécia devido ao tratado de aliança que tinha assinado com a Sérvia, em 1913. Este tratado estipulava que, se algum dos signatários fosse atacado pela Bulgária, o outro apoiaria com um determinado corpo de tropas. A Grécia deveria fornecer 90.000 homens e a Sérvia 150.000. Em outubro de 1915, a Sérvia teve de se defender não apenas da Bulgária, mas também da Áustria-Hungria e das forças alemãs. Isto significava que não dispunha de 150.000 homens para constituir o corpo de tropas previsto no tratado de 1913. Desta forma, o Rei Constantino da Grécia (filho de Guilherme de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg, príncipe dinamarquês eleito em 1863 Rei da Grécia), simpatizante das Potências Centrais, entendeu que a indisponibilidade da Sérvia para contribuir com os 150.000 homens previsto no tratado de 1913, libertava a Grécia dos termos desse tratado.

Se o Rei da Grécia era simpatizante da causa das Potências Centrais, o primeiro-ministro grego, Elefthérios Venizélos, era simpatizante da causa da Entente e solicitou à França e ao Reino Unido o apoio em 150.000 homens a fim de a Grécia honrar os seus compromissos com a Sérvia. A França e o Reino Unido retiraram tropas da Península de Gallipoli, organizaram duas divisões e enviaram-nas para Salónica. Contudo, a 1 de outubro, o primeiro ministro grego, Venizélos, pressionado pelo Rei Constantino e pelas chefias militares gregas, informou os Aliados que não poderia permitir o desembarque das tropas em Salónica.

No dia 5 de outubro de 1915, Franceses e Britânicos decidiram, numa reunião em Calais, desembarcar tropas em Salónica. Os Franceses enviariam três divisões e os Britânicos cinco. Desta forma poderiam reunir os 150.000 homens exigidos pela Grécia. Ainda a 5 de outubro, quando as primeiras tropas francesas e britânicas, saídas de Gallipoli, desembarcaram em Salónica, Venizélos foi forçado a demitir-se. O Rei Constantino reafirmou a intenção de manter a neutralidade da Grécia. Assim, o desembarque das tropas francesas e britânicas em Salónica era uma violação das regras das relações internacionais. Apesar de tudo, o Governo francês estava na disposição de iniciar uma campanha nos Balcãs. O objetivo imediato era salvar a Sérvia e encorajar a Roménia, uma potência neutral, a juntar-se aos Aliados. Mas, para além da situação específica dos Balcãs, pretendiam impedir a Alemanha de concretizar a ligação terrestre com a Turquia.

As forças francesas em Salónica lançaram uma ofensiva para estabelecerem a ligação com as forças sérvias em retirada. No dia 22 de outubro, os Búlgaros conseguiram interpor-se entre as forças sérvias e Salónica, obrigando as forças francesas sob comando do General Serrail a retirarem. Ficaram cortadas as comunicações entre Sérvios e Aliados. Houve duas consequências desta nova situação: as forças sérvias desviaram a sua retirada para a Albânia e o Governo britânico recomendou a evacuação de Salónica. Prevaleceu, no entanto, o ponto de vista dos "Easterns", designação para aqueles que defendiam que seria mais eficaz um ataque em larga escala nos flancos das Potências Centrais. É neste âmbito que foi lançada a Campanha Gallipoli.

As razões apresentadas para esta decisão prendiam-se com a estratégia e a diplomacia. Em primeiro lugar, a Rússia e a Itália aspiravam ao domínio de territórios na Península Balcânica e, sendo assim, o abandono de Salónica, contrário aos interesses daquelas potências, punha em causa a solidariedade entre os Aliados ao mesmo tempo que deixavam aberto o caminho aos Alemães se ligarem com a Turquia por via terrestre. Por outro lado, ao manterem na região 150.000 homens, os Aliados protegiam Salónica tendo em vista operações futuras e obrigavam ao empenhamento de um efetivo de 400.000 Búlgaros e Alemães, longe das Frentes Ocidental e Oriental.

Na Grécia neutral, as forças gregas mantinham uma pressão grande sobre as forças dos Aliados criando inúmeras dificuldades. Os Aliados encontravam-se confinados a Salónica e uma área em redor. Com a finalidade de alterar esta situação, a França e o Reino Unido exerceram pressão económica sobre a Grécia, culminando no bloqueio dos seus portos. Só então, o Rei Constantino concordou com a utilização do território grego pelos Aliados, como base para o seu avanço na Sérvia ou para a retirada dos Sérvios. Apesar desta mudança de atitude, a Grécia permaneceu neutral e, sendo assim, as forças disponíveis para lançar uma ofensiva permaneceram diminutas. Os Sérvios não podiam fazer mais nada que retirar através da Albânia.

A Albânia tinha proclamado a sua independência a 28 de novembro de 1912 e foi internacionalmente reconhecida como um Estado independente na Conferência de Londres de 1913. O Príncipe Wilhelm zu Wied (Guilherme Frederico Henrique de Wied), alemão, foi escolhido como soberano de um principado independente. A integridade do seu território, no entanto, permanecia ameaçada pelo expansionismo da Grécia, a sul, da Sérvia, a norte, e da Itália através do Adriático. Esta situação crítica relativamente às ameaças exteriores era agravada pela situação interna caótica. Em setembro de 1914, o Príncipe Guilherme da Albânia fugiu para a Alemanha.

Em 1914, após o início da guerra, tropas gregas ocuparam o sul da Albânia e, em novembro, a Itália, ainda neutral, enviou tropas para o porto de Vlonë (Vlorë, Vlora ou Valone). No Verão de 1915, as forças militares da Sérvia e do Montenegro entraram no norte e centro da Albânia em retirada em direção à costa. Em consequência, os tropas da Áustria-Hungria invadiram a Albânia a partir do norte. Em 1915, em Londres, foi assinado um tratado que cedia o porto de Vlonë à Itália em troca desta potência se juntar à Entente. A Itália exerceria também o protetorado sobre parte do território da Albânia. Esse mesmo acordo permitia, em termos idênticos, a Grécia e a Sérvia virem a exercer o seu domínio sobre o restante território da Albânia.

Até 1918, a Itália controlou o porto de Vlonë e a Áustria-Hungria o de Durazzo. Os chefes das forças locais albanesas mantiveram o controlo da parte central do território. Desses chefes locais, alguns aceitaram o apoio da Áustria-Hungria e desencadearam ações de guerrilha contra as forças italianas em Vlonë. Nenhum deles conseguiu alguma vez conquistar uma posição hegemónica sobre os outros.

As forças dos Aliados, em Salónica, sob comando do General francês Maurice Sarrail, dedicaram a primeira metade de 1916 a fortificar as suas posições e a estabelecer uma base logística para operações futuras. Às divisões francesas e britânicas juntou-se, em maio de 1916, um exército sérvio formado pelos sobreviventes da retirada efetuada em 1915. Equipados e armados pelos Franceses, eram então cerca de 130.000 homens. Em julho e agosto, chegaram pequenos contingentes italianos e russos. Os Britânicos, mais preocupados com a defesa do Canal de Suez, não disponibilizaram mais forças para a região. A maior parte das tropas eram, assim, francesas e sérvias.

A relutância da Grécia em abandonar a posição de neutralidade provocou uma série de reações da parte dos Aliados que, na Primavera de 1916, estabeleceram bases navais em vária ilhas gregas do Mar Jónico e do Mar Egeu. Os Gregos retaliaram permitindo que uma força conjunta da Bulgária e da Alemanha ocupasse as fortificações de Roupel, na fronteira com a Bulgária. No dia 21 de junho, os Aliados pediram a demissão dos ministros e chefes militares pro-alemães e exigiram a desmobilização parcial do exército grego. Simultaneamente, os Aliados estabeleceram um bloqueio naval aos portos gregos, com os consequentes problemas de um país que necessitava importar alimentos.

 

A ROMÉNIA ENTRA NA GUERRA

O governo da Roménia declarou guerra ao Império Austro-Húngaro a 27 de agosto de 1916. Recordemos que a Roménia era aliada da Alemanha e da Áustria-Hungria desde 1883 e o Rei Fernando I da Roménia (Ferdinand von Hohenzollern-Sigmaringen) tinha laços familiares com o Imperador da Alemanha. Tanto os Aliados como as Potências Centrais procuraram atrair a Roménia para o seu campo. O principal argumento, para a Roménia, era a possibilidade de anexar a Transilvânia. Se a Ofensiva Brusilov (4 de junho – 20 de setembro de 1916) tivesse sucesso sem que a Roménia entrasse na guerra, a Transilvânia ficaria nas mãos dos Russos e a Roménia perderia esse território. Os Aliados assinaram um tratado secreto com a Roménia em que lhe prometiam o Banat de Temesvar, a Transilvânia e a Bukovina. Os Aliados também lhe prometeram o apoio das forças russas estacionadas na Bukovina e das forças aliadas em Salónica.

A entrada da Roménia na guerra colocou mais 700.000 soldados no lado aliado. Inicialmente, no lado húngaro, existiam poucas tropas junto à fronteira. Os Romenos invadiram a Transilvânia nos dias a seguir à declaração de guerra e avançaram sem grande dificuldade. Em meados de setembro tinham penetrado cerca de 80 Km no território austro-húngaro. Alemães e Austro-Húngaros prepararam uma contraofensiva. Esta foi lançada a sudeste, em Dobrudja, por uma força conjunta de Alemães, Búlgaros e Otomanos e, na fronteira com a Transilvânia, pelas forças alemãs e austro-húngaras.

A Rússia não dispunha de recursos suficientes para apoiar eficazmente a Roménia, mas enviou algumas tropas para intervirem da região de Dobrudja. O domínio desta região permitia dominar a foz do Danúbio. Na fronteira com a Áustria-Hungria, a Roménia sofreu baixas elevadas e foi obrigada a retirar. Bucareste caiu em poder das forças alemãs e austro-húngaras a 6 de dezembro. Apesar das enormes perdas sofridas, a Roménia tinha conseguido ganhar tempo para os Russos reforçarem as suas posições a sudeste e para os Britânicos organizarem a sabotagem dos poços de petróleo romenos para que estes não fossem proveitosos para as Potências Centrais. No entanto, o exército romeno ficou reduzido a um décimo da força inicial em pouco mais de três meses e grande parte do território foi ocupado.

A Campanha da Roménia foi um sucesso para as Potência Centrais. A ocupação do território forneceu-lhes importantes recursos, mas não o petróleo da região de Ploesti porque as instalações de extração tinham sido destruídas antes da retirada das tropas romenas. As forças romenas sobreviventes foram reorganizadas com apoio francês fornecido através da Rússia. Em 1917, com o colapso do Império Russo, a Roménia ficou isolada e foi forçada a aceitar os termos do Tratado de Bucareste assinado em abril de 1918. Nos termos deste tratado, a Roménia abdicava de todos as pretensões à Transilvânia e cedia à Alemanha, por um período de noventa anos, o controlo e exploração de minerais e petróleo.

Os Romenos voltaram a entrar na guerra, contra as Potências Centrais, a 10 de novembro de 1918, na véspera da entrada em vigor do Armistício de Compiègne, entre os Aliados e a Alemanha. Como potência beligerante, do lado vencedor, anexou a Transilvânia quando se deu o desmembramento do Império Áustro-Húngaro. Tanto a Transilvânia como a própria Roménia tinham sofrido um grau de destruição tão elevado que a sua reconstrução foi um fardo bem pesado para os Romenos. A participação da Roménia não teve um efeito significativo no curso da guerra, mas constituiu um fardo adicional para os Russos que, desta forma, ficaram com uma frente mais extensa, cerca de 400 Km.

 

A GRÉCIA ENTRA NA GUERRA

O rei Constantino da Grécia tinha declarado que a neutralidade da Grécia só terminaria no caso de ataque da Turquia. Em 1915, o conflito entre Venizelos, vitorioso das eleições, e Constantino I, que pretendia manter a neutralidade da Grécia, levou à demissão do primeiro-ministro e à formação de vários governos de iniciativa real. Estes governos não conseguiram impedir o desembarque de uma força anglo-francesa em Salónica que antes tinha sido autorizada por Venizelos com a finalidade de apoiar a Sérvia. O governo grego, pró-alemão, apoiava sem grandes reservas as Potências Centrais. Foi assim que as forças búlgaras ocuparam, em maio e agosto, o Forte Rupel e a cidade portuária de Kavala em que as forças gregas ali presentes - duas divisões - se renderam sem resistência.

Esta divisão política na Grécia e o comportamento do seu exército levou à criação de associações paramilitares, umas apoiantes do rei, outras apoiantes de Venizelos, e a um clima de guerra civil. No dia 1 de setembro, foi estabelecido em Salónica um Comité de Defesa Nacional. Este comité foi dissolvido com a formação de um governo provisório estabelecido por Venizelos na ilha de Creta. O governo provisório anunciou a formação de um Exército de Defesa Nacional para apoiar os Aliados. Este exército foi formado por algumas tropas regulares e pela incorporação obrigatória nas zonas controladas pelos apoiantes de Venizelos.

No dia 19 de novembro de 1916, a frota aliada aproximou-se de Atenas e expulsou os representantes das Potências Centrais. No dia 24 de novembro, os Aliados exigiram a rendição da artilharia grega que ameaçava as posições de Salónica. Tropas francesas, britânicas e italianas desembarcaram e dirigiram-se para Atenas. A 1 de dezembro foram atacados por tropas gregas leais ao rei. As tropas aliadas retiraram mas foi mantido o bloqueio naval no início de 1917. No dia 11 de junho, o governo grego recebeu a exigência dos Aliados para a abdicação de Constantino. Sucedeu-lhe o seu segundo filho Alexandre. Esta interferência dos Aliados nos assuntos internos da Grécia foi recebida pelo governo de Venizelos como uma ação das "Potências Protetoras da Grécia".

Venizelos voltou para Atenas a 26 de junho de 1917, formou um governo nacional e, no dia 29 desse mês, a Grécia declarou guerra às Potências Centrais. Em Salónica já tinham sido formadas três divisões gregas e mais uma que estava quase pronta e tinha origem nas ilhas Cíclades e nas ilhas Jónicas, cerca de 60.000 homens no total. Foi decretada a mobilização geral, mas as ações dos apoiantes do rei Constantino provocaram grandes dificuldades. O apoio a Constantino, que se encontrava no exílio, na Suíça, era garantido por muitos oficiais e registaram-se numerosas revoltas. A mobilização só ficou completa em abril de 1918 colocando no terreno cerca de 250.000 homens que formavam dez divisões. Estas tropas gregas tomaram parte na Ofensiva de Vardar. A marinha grega passou a participar na campanha antissubmarino no Mediterrâneo.

A FRENTE DE SALÓNICA

Com o acordo do primeiro-ministro grego Venizelos, as primeiras tropas francesas e britânicas desembarcaram em Salónica a 5 de outubro de 1915. Após uma série de convulsões internas que conduziram à formação de um governo provisório em Creta, sob a direção de Venizelos, e à intervenção das forças dos Aliados que exigiram a abdicação do rei, a Grécia declarou guerra às Potências Centrais.

Até aí, as forças aliadas em Salónica tiveram como principal atividade a fortificação da área circundante da cidade por forma a fazer frente às ameaças das forças alemãs e búlgaras, mas também gregas. A partir de janeiro de 1916, as forças aliadas tinham aumentado os seus efetivos e o número de embarcações. O comandante desta área continuava a ser o General francês Maurice-Paul-Emmanuel Sarrail. Contra os protestos gregos, Sarrail assumiu o controlo administrativo completo da área fortificada e interveio na política interna grega conduzindo ao governo de Venizelos (junho de 1917).

No campo militar, no início de 1917, existia uma força de aproximadamente 600.000 homens, franceses, britânicos, sérvios e russos. Esta força era conhecida como "Exército de Leste" e mantinha contato com as forças italianas que tinham desembarcado na Albânia. Tratava-se de uma força de dimensão considerável, mas encontrava-se muito fragilizada pela doença. Salónica era, devido às circunstâncias, uma cidade superpovoada, sem que existissem estruturas sanitárias para servir um número tão elevado de pessoas. Por outro lado, o clima húmido e os arredores pantanosos ajudaram a propagar uma grande quantidade de doenças. Esta situação permitiu ter apenas cerca de 100.000 homens aptos para combater.

Balcãs Salónica

Na Primavera de 1917, o General Sarrail lançou uma ofensiva ao longo de toda a linha da frente, mas, numa força conjunta em que o princípio da unidade de comando era tão facilmente violado, a coordenação falhou e as operações militares foram um fracasso. Os Britânicos, por exemplo, só aceitavam as ordens de Sarrail depois de consultarem Londres. As forças aliadas em Salónica ficaram, assim "prisioneiras" no seu próprio campo. Foi nesta época que se dizia que Salónica era o maior campo de internamento alemão. Para agravar a situação, a pressão exercida pelos "Westerners" aumentou. No final do ano, o General Sarrail foi afastado e substituído pelo General Marie Louis Adolphe Guillaumat.

Em 1918, os Alemães retiraram a maior parte das suas forças dos Balcãs, com a finalidade de reforçar a Frente Ocidental, onde lançaram uma grande ofensiva na Primavera. Ficaram apenas as tropas búlgaras, com um efetivo de 200.000 homens, a manter uma linha que unia a costa do Mar Egeu à fronteira com a Albânia. Esta teria sido uma boa oportunidade para os Aliados em Salónica relançarem as ações ofensivas destinadas a libertarem a Sérvia, mas Guillaumat permaneceu passivo. Em julho foi substituído pelo General Franchet D'Esprey. As forças aliadas foram reforçadas por 250.000 militares gregos e, em setembro, foi lançada a Ofensiva Vardar, a última ofensiva lançada pelos Aliados em Salónica.

A Ofensiva Vardar teve início no dia 15 de setembro de 1918, com o Exército Sérvio, flanqueado por unidades francesas a avançar ao longo do curso do Rio Vardar, numa frente de 25 Km. As forças búlgaras, desorganizadas, recuaram e a ofensiva avançou 10 Km no primeiro dia. No dia 18 de setembro, teve início um ataque lançado por uma corça conjunta grega e britânica à volta do Lago Doiran e, no dia seguinte, já as forças aliadas tinham atravessado o Rio Crno, a norte de Monastir. No dia 25 de setembro, o General d'Esperey recusou uma proposta búlgara de cessar fogo e a retirada das tropas búlgaras transformou-se numa debandada. As tropas francesas entraram em Skopje no dia 29 de setembro, quando o armistício começava a ser discutido com o governo búlgaro. A Bulgária rendeu-se no dia 30 de setembro. Nesta data, já 90.000 búlgaros tinham sido capturados.

Durante o mês de outubro, assistiu-se ao colapso das forças das Potências Centrais nos Balcãs. Os britânicos moveram-se em direção a Constantinopla. Os Italianos começaram a ocupar a Albânia. As unidades alemãs que ainda permaneciam nos Balcãs retiraram. O Exército Sérvio recuperou Belgrado a 1 de novembro. As forças austro-húngaras nos Balcãs retiraram com o objetivo de protegerem a fronteira sul do Império. A Áustria-Hungria rendeu-se no dia 4 de novembro. Nessa data, os exércitos aliados já se encontravam na linha do Danúbio.

 

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